Poucos sabem, mas o mercado (no Brasil) nasceu em novembro de 2017, foi naquele momento em que se descobriu o Bitcoin (e nenhuma outra moeda). Só se falava dele!
 Falava-se bem, falava-se mal, mas falavam. Era trend buscas no google, e o efeito manada somado à sua escassez, pela sua deflação, fazia com que o seu preço subisse ainda mais. Mas não apenas, estamos sempre em busca do tesouro perdido, do dinheiro fácil, e pareceu fácil demais, subidas de preços inacreditáveis e muita especulação até dezembro.

Junto do Bitcoin tem-se o Blockchain, a tecnologia que permite o seu funcionamento, e ainda tão pouco explicado ou falado, quem dirá então compreendido. Hoje vemos o Brasil como um berço de startups, mas ainda sim muitos poucos usando esta tecnologia.

E hoje estamos cheios de cursos e falando sobre criptomoedas, e sobretudo sobre preços, análises de mercado e afins. E o que menos falam é sobre outras tecnologias, outras formas de pensar e ver o Blockchain, que é a proposta deste texto.

A autora Melanie Swan, em seu livro, Blockchain: Blueprint for a New Economy, divide o Blockchain em três fases, o primeiro como sendo todos os que usam para fins econômicos, como uma moeda ou forma de pagamento, já o segundo são os Smart Contracts, dApps e DAO, e, por sua vez, o terceiro são próximos ao segundo, mas com o temperinho de serem serviços ou produtos que atinjam o nível global ou mesmo que correspondam a algo que originalmente seria ofertado por algum governo ou estado.

Mas o que exatamente isso quer dizer? Afinal, o que é o Blockchain? Seria apenas mais uma forma de banco de dados imutável? Este é o erro comum.

Por outro lado, há quem defenda outra forma de classificação, como o posto na imagem em destaque deste texto, em que o seu 3.0 se enquadra em um sentido mais aproximado ao de um Sistema Operacional.

Como dito, o primeiro uso do 1.0 foi como moeda. O Blockchain é um livro-razão distribuído que contém, em cada bloco, um conjunto de transações financeiras realizadas de tal forma a ser pública para que todos tenham conhecimento sobre o seu conteúdo, ainda que o dono de cada carteira não seja disponível.

Ocorre que muito disso já existia ainda antes do Bitcoin, mas ele foi o primeiro a resolver o gasto duplo (Byzantine Generals’ Problem), e isso possui uma implicação maior no que diz respeito ao lado financeiro, não apenas quanto à sua descentralização, mas principalmente quanto ao outro problema oriundo deste, que é o Gasto Duplo. Ou seja, se não há consenso na rede, e não se pode auferir qual dos Blockchains é o verdadeiro, isso se assumir uma rede descentralizada, então seria possível realizar um pagamento a uma pessoa e também a outra, ainda que usando o mesmo valor.

Exatamente por este motivo se justificaria a necessidade de uma autoridade centralizadora que confiasse e validasse essas informações. Afinal, sem a solução deste problema, como poderíamos ter confiança? Quer dizer, depositávamos, justamente, a nossa confiança em terceiros intermediários a fim de que esse tipo de informação fosse correta. Eliminamos essa necessidade.

Nesta época, a demanda é especulativa.

Em 2014 entramos no 2.0 com o Ethereum e os Smart Contracts, substituindo (de forma grosseira) os dados referentes às transações financeiras por códigos inteiros de programas dentro do bloco. Aqui vale a referência ao texto da Juíza Renata Baião, que explica porque é incorreto tratarmos estes aplicativos como contratos, juridicamente falando.

Estes SC (Smart Contracts) são, então, dispositivos acionados por gatilhos que, ao verificar determinadas condições previamente descritas irão executar automaticamente a ação desejada. Sem freio.

O resultado disso é que saímos de uma moeda em que o controle mudou de mão, se antes era estatal agora passou a ser do mercado, e claro que muitas discussões sobre a necessidade de regulamentação do mercado ou não deva existir, e como isso pode ou não interferir na própria manipulação do mercado. Veja-se, essa manipulação vai ocorrer de qualquer jeito, a regulamentação (ou sua ausência) será uma questão de para quem vai dar maiores poderes para manipular, apenas.

Saímos de uma moeda para contratos inteligentes dentro de uma rede distribuída, com o mínimo de interferência estatal (pois seria muita imprecisão afirmar que essa interferência seja zero), encadeada e com fluxo de dados. Os aplicativos aqui criados não estarão em servidores centralizados, e não poderão ser fechados.

A demanda ainda é especulativa, mas a transformação está emergindo.

E chegamos no 3.0, com exemplos como do projeto do Democracy Earth, que trabalha a prova de identidade e o voto, a fim de nem mesmo isso dependermos mais do Estado. A evolução tomou conta e o seu uso chegou a todas as indústrias, como podemos ver na imagem a seguir:

Outros exemplos, como o Civic veio ajudar a resolver o problema de verificação de identidade quando nos inscrevemos. Nós não precisamos de uma senha, de nome de usuário (que é a principal causa de hacking). Por exemplo, temos que nos sentar, preencher o nome, enviar uma foto para verificar a identidade no site do Exchange e controlar quem pode acessar nossas informações — e convenhamos, não tmos controle nenhum das nossas informações.

Pense em uma maneira mais eficaz de se identificar. Mais confortável e que o usuário evite o roubo de identidade online. E mais barato que isso.

O Po.et vem para resolver o problema de furto de conteúdo, como fotos, artigos, arte e muito mais. O proprietário do conteúdo cria uma prova de propriedade no bloco.

Note-se que aos poucos estamos amadurecendo a forma de lidar com esta nova tecnologia, se antes era tudo especulação, aos poucos se começa a ter maior validade no seu uso real, com aplicações em nosso dia-a-dia, de tal forma a se ganhar valor pelo use case efetivo.

Nesta época, a demanda está se transformando de demanda especulativa em demanda real!

Em suma, entramos, finalmente, no Blockchain 3.0, a era dos negócios. E, distante de uma moeda fiduciária, que ao ser instituída por força de lei, já surge com todos os seus parâmetros obrigacionais vinculando todas as pessoas ao seu uso, no caso das criptomoedas, smart contracts e dApps, em que não há essa força de lei atuando nessa imposição, não há que se falar em surgimento “instantâneo”, mas sim de crescimento e maturação, de tal sorte a termos que acompanhar ao longo do tempo.

Tempo que é irrelevante, em princípio, à moeda estatal. Enquanto que aqui o tempo é parte integrante do livre mercado. E este mesmo livre mercado mostra a sua força e seus desejos.

Texto originalmente publicado aqui em 09 de setembro de 2018.